sábado, agosto 23, 2008

Voltando com texto antigo chato!!!

Uhú!

Vale a pena recomeçar postando aqui um texto meio bem pós-moderno de outubro de 2006 (um pouco depois de eu ter escrito a "foto-novela"):

Breves Inquietações Filosóficas


Uma delas é “O que é Filosofia?” Conjunto de conhecimentos, conceitos, não sei, metodicamente adquiridos que guardam uma relação sistemática entre si. Pretende investigar as raízes do conhecimento humano, questionando tudo e blá blá... Ora, se eu não me engano, eram os pragmáticos – pertencentes a um ramo respeitado e influente - que diziam que filosofia era qualquer conversa aí. Não entendo quando insistem em achar que uma outra definição para filosofia, além da primeiramente citada, é errada. Sabe o que eu acho? (“Filosofia não é ‘achismo’ dizem os ‘portadores da definição racional de filosofia’”) Não dá pra definir filosofia. Não dá pra criar uma rígida barreira entre filosofia, ciência e conhecimento vulgar. Não é a toa que em diferentes períodos da humanidade essas coisas aí se misturaram todas (as três, ou duas delas, depende...). “Ah, mas agora evoluímos!” Tudo bem, você vai querer provar racionalmente e tal essa sua afirmação, mas, admitamos, a evolução da humanidade está longe de ser um consenso. Sequer a existência disso que chamamos de evolução é algo facilmente aceitável. Hoje, dizem que sabemos separar as coisas e que os resultados só comprovam a evolução e tal. Porém, não posso deixar de perceber o quanto isso pode ser perigoso. Lembra daquela máxima famosíssima de Goebbels? A formação de dogmas é um perigo para a filosofia. Qual a característica mais marcante da atitude filosófica? Não é a sua investigação radical e fundamentada das coisas? O que é a Filosofia? Pode-se elaborar hipóteses (não sou fã fã "fãzão" de Popper não), mas tomemos muito cuidado com a petrificação delas. Resumo da ópera: Eu estou certo ao afirmar que a certeza é incerta.


Não quero me prolongar no assunto “definição de filosofia”. Não é essa minha preocupação principal hoje, aliás, é bem secundária, mas como tem a ver com o que escreverei me empolguei um pouco. O que pretendo, de fato, é ter uma atitude filosófica em relação à minha atitude filosófica, passando pela questão da evolução. A origem foi esta pergunta:


a) Eu sofri uma evolução? Em relação aos meus quinze anos, sei lá, pode-se perguntar até em relação ao meu nascimento.


É uma discussão que tem relação, inclusive, com o multiculturalismo, que vem ganhando força desde os grandes estudos antropológicos e sociológicos feitos ultimamente. Costumamos aceitar, a priori, que aprender a amarrar os cadarços é sinal de evolução. “Olha lá, ta aprendendo hein!” Ou mesmo, resolver problemas matemáticos. Porém, o que eu percebo é que isso só faz sentido se determinarmos uma meta, um significado para o problema da existência. E isso tem a ver com minha segunda indagação. Ainda que eu não tenha respondido (e nem pretendo) a primeira, aí vai:


b) Não podemos suportar um mundo sem valores.


Percebe-se que minha segunda indagação trata-se de uma afirmação. Ora, o que é um mundo sem valores? Talvez um mundo sem seres racionais. Isso significa que a razão é a única fonte de valores? Isso advém da discussão acerca da separação entre razão e emoção. Bem, se as emoções não são geradas pela razão não sei mais de onde elas surgem. O que é um homem sem razão? Um poço de “inanimação”. Talvez a razão seja uma criação humana e algo bem subjetivo. Seria uma tentativa do homem de dar sentido à sua vida. E essa indagação não é nova. Fala-se do instinto de sobrevivência. Seria algo como um imperativo categórico meio que sem razão. Alguém pode me taxar de demônio e dizer que é bem mais fácil destruir que construir. Tudo bem, mas o que seriam os Tartarugas Ninjas se não fosse o Destruidor? De onde surgem os instintos? Lugar algum? São entes autônomos do ser? Uma fascinante e inexplicável lei interna? Não vejo ninguém especulando que eles possam derivar da razão. Talvez pra negar aos animais, ditos irracionais, o direito à razão... Se eu propuser diferentes estágios de razão vão afirmar que minha transformação se restringe ao aspecto lingüístico. Um novo significado para a expressão “razão”. É. Talvez eu ache que os animais não passam de bestas inferiores (o que chamam de pensamento normal). Vou ser sincero, certamente não dá pra compreender minha posição, mas que ninguém se aflija. Eu fracassei ao tentar seguir a ordem de Sócrates. A do “conhece-te a ti mesmo.” Bem, mas pra que saber se a razão é ou não fonte de qualquer valor? O que eu estou dizendo é bem óbvio. O mundo sem a razão é uma porcaria inútil. Não é a toa que ela existe... O que tento dizer é que só “”“”“existem””””” duas coisas: a coisa e a não-coisa. Também conhecidas como bom e ruim. “E os conhecimentos objetivos?” Ora, ora, sem valoração seriam inúteis. Além disso, que é que você chama de conhecimento objetivo? Ciência e tal né? Deixa pra lá. Talvez as emoções tenham sua origem nos instintos. Talvez a emoção seja outro ente autônomo misterioso. Razão, valor... Está tudo ligado. Como escolher os valores é outra história. Só sei que essa separação entre razão e instinto me parece algo bem superficial. Deviam pelo menos flexibilizar as coisas. A raça humana não vai desaparecer com isso... Criem uma linha maleável entre os animais. Essa parede que há é um exagero, talvez sirva pra justificar a dominação e só. E a verdade objetiva? É algo inútil? Sozinha, sim. O objeto puro, sem ser contaminado pela razão, é algo apenas “””””existente”””””. Aí você pensa na perfeição. Algo que só existe dentro do indivíduo, visto que a união de perfeitos, sem concessões e tal, é um consenso impossível. Você pensa e conclui: “Que chato esse mundo perfeito! Sem desafios.” Ora, que paradoxo! A perfeição é perfeita, não pode ser chata. Acontece que o perfeito não existe (Quem sabe na morte, talvez, sei lá, não quero me aventurar nessas coisas místicas...). Na perfeição não há espaço para o ruim. Enfim, perfeição é colapso. Ainda bem que escrevo um monte de imperfeições (vai ver isso de que o perfeito não existe é uma delas...). Confesso que eu acho o Premiata Forneria Marconi uma perfeição de progressivo. Talvez daí meu fascínio pela música. De vez em quando ela me faz achar que estou errado, como ela é uma das poucas que faz isso, gosto de estar ao lado dela... Dizem que a tolice de uma pessoa se mede pelo tanto de certeza das coisas que ela tem. Não sou adeptos de máximas pra decorar e tal, mas essa faz muito sentido pra mim. Embora eu não saiba o que é exatamente tolice, me sinto bem tolo às vezes. Toda vez que escrevo por sinal. Isto aqui não é tão diferente do “vômito de certezas”, o qual eu tanto critico. Resumindo, o mundo é dicotomia. E razão e linguagem estão mais ligados do que se pensa. O que dá sentido as coisas, de verdade mesmo, é a razão.


E qual o sentido da razão? Dar um sentido ao homem? Talvez seja algo mais. Ela é talvez a forma mais eficiente de perpetuar a existência. O grande objetivo de todos talvez seja passar à frente a possibilidade de existir. Por quê? Religião? Costume incontestável? Especulemos. Ou talvez a razão seja só curiosidade mesmo. Outro fascinante imperativo categórico... Mudança de rotina? Bem, se fosse, haveria um motivo forte pra se manter o novo hábito depois. Não explica. Talvez exista o “melhor não-subjetivo” e a razão seja o instrumento para apreendê-lo. Caso não exista, confesso que ainda não sei o porquê do homem se preocupar com o futuro da humanidade. Tenho especulações apenas. Não explicam satisfatoriamente a necessidade da razão. A melhor e menos ambiciosa tese é mesmo a de que a razão é um novo estágio (“não-hierarquizadamente” falando) da atitude humana frente aos objetos. Ok. Ela cria os valores, mas também sofre a influência deles. Os valores movem a razão. Se não houvesse valores, pra que razão? Quem nasceu primeiro? Não sei quando nasceu nenhum dos dois... Eu ainda escrevo porque não sou escravo da dúvida embora goste dela como se deva gostar (eu determino).


A razão serve aos instintos? O de sobrevivência e tal? Talvez. Como já pensei, é complicada essa separação da essência humana (razão, emoção, instinto...). Serve ilusoriamente? Talvez... Só sei que um mundo sem valores [e razão e valor só não se confundem devido à possibilidade de se argumentar que a primeira pode ser movida pelo subjetivismo, mas não construi (pedantismo à flor da pele. A propósito... Cala a boca Word!) apenas conhecimentos essencialmente subjetivos] é antinatural (por mais que eu odeie esse termo)... A não ser que o conceito de valor seja mais relativo do que eu imagino, mais aí já se instaura um caos gnosiológico (texto filosófico que se preze deve conter esse termo... E até mesmo os que não se prezam devem conter...)


E falando de valores, não há nada mais valorativo que a expressão “evolução”. Ora, evoluir é, consagradamente, melhorar, sair de um estágio inferior para outro superior. Alguns dirão que Zezinho evoluiu porque aprendeu a pentear o cabelo ou amarrar os cadarços. Outros apontarão outros motivos, tais como: noção de responsabilidade (pagar as contas, ajudar a família, desenvolver a coletividade...), melhor interação social, etc. Por que eu perguntei se sofri evolução? Ora, lembro que há anos atrás eu achava que sabia tudo de mim, que o mundo era cheio de verdades, que a ciência era deus e que Deus era deus. Pra mim não fazia sentido questionar certas coisas. Enfim, deu pra entender o que eu especulo que seja evolução. Observando as pessoas, tenho notado que quase todas acreditam nessa “mágica natural da vida”. Outro dia, me peguei tendo certeza de que minha mudança de atitude perante o tudo era indiscutivelmente um avanço. Foi aí que comecei a pensar sobre evolução de forma meio que obsessiva para os meus padrões. Se eu ainda fosse a pessoa de anos atrás, não me questionaria a respeito do estágio. O “Eu” de 2000 e pouco teria certeza de que o “Eu” do século passado era um “desevoluído”. Daí surge quase um paradoxo. A evolução está em não admitir, a priori, que evoluiu? Creio que sim. Pelo menos, se eu concluir que estou num estágio superior atualmente terá sido após alguma reflexão (mesmo sendo da qualidade “minha reflexão”...). Creio que é necessário contestar até a existência da evolução. Mas isso tudo e todas as conclusões finais estão longe de ser para agora.


c) indagações avulsas e desordenadas:


Ontologia: o ser humano é, sobretudo, um confuseiro. Um problemático. Essa é a essência! Tem a ver com o que eu escrevi a respeito de um mundo sem valores e/ou um mundo perfeito. Melhor... Pior... Gera problema. Não tem jeito... Interessante como axiologia, epistemologia, ontologia e outros ramos estão sempre ligados. Sai de um chega ao outro. É tudo filosofia. Essas subdivisões são desnecessárias. Serve para as pessoas se gabarem de saberem o que significa cada uma. Aliás, viver é isso né? Ir complicando tudo e tal (“Matem este burro subversivo que escreve! Vá estudar!”)... A partir do sujeito, pode-se entender todo o resto. Não lembro o porquê de eu afirmar isso, mas anotei em algum lugar. Certamente, tem relação com o fato de sermos os construtores dos valores, que é nada mais nada menos que tudo que importa afinal.

Ah, eu falava sobre dúvida. Existe uma expressão mágica no cenário lingüístico nacional criada para dar limites à investigação radical própria da atitude filosófica. Ela se chama "forçar a barra". É o velho "Ah! Mais aí você está forçando a barra. Não tem lógica". Basta algum pensamento mais ousado, que subverta a normalidade, para alguém dizer que "nego ta forçando a barra!" Ok. É um direito do cidadão, mas proponho que saíamos do papel de portadores incontestáveis da normalidade conceitual e argumentativa. Não se deve temer a dúvida.


Bem, por hoje chega de manifesto ismoísta paraguaio.


PS:. Só odeio uma coisa neste mundo: o ente abstrato tempo.


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