terça-feira, agosto 29, 2006

EPISÓDIO XIX


Episódio XIX: "Lembrei!" Assim foi o estalo em voz alta que Alexsofu teve no meio da festa de comemoração. Ninguém entendeu direito. Só se sabe que assim que ele lembrou do que havia esquecido de fazer ficou preocupado, calado e reflexivo (embora isso não tenha tido qualquer influência na voracidade com que devorava os brigadeiros e demais coisas comestíveis do local).

Bem, o importante mesmo é que a missão teve final feliz. Todos brindavam felizes. A foto oficial da batalha de Lassftroops Beyond The Pale demonstra bem a cara de sucesso e orgulho do que fora feito por parte dos dois heróis. Agora, porém, Alexsofu estava cada vez mais preocupado...

Bem de novo, diziam freqüentemente Tales de Mileto e Parmênides: "Um pouco de metalinguagem não faz mal a ninguém". E era nisso que eu pensava enquanto tentava estudar Hermenêutica. Afinal, como se escrever um texto?

Momento extremamente personalista do texto: É certo que eu não devia me fazer essa pergunta, assim... Bem... No final da foto-novela ou foto-seriado, sei lá. Mas, eu me dou bem comigo mesmo. Falemos da linguagem. É pertinente afirmar que ela deve se adequar ao público que quer alcançar. Tomemos o exemplo deste blog. A linguagem é confusa, tem neologismos, estruturas inventadas, há erros de ortografia e concordância nos textos, o chamado "mau emprego" de sinais e pontuação, enfim, uma porcaria completa. Acontece que o meu público-alvo é nada mais nada menos do que eu mesmo. O próprio aqui que vos fala. Luis XIV disse certa vez que era o Estado. Pois eu sou o Estado e o povo. Eu sou o limite, o parâmetro para qualquer coisa aqui neste site. Logo, a linguagem precisa apenas conseguir não me confundir. O dever dela é combinar comigo e fazer com que eu tenha uma leitura rápida e dinâmica. Ninguém melhor para escrever atendendo a esses requisitos que eu. Daí eu não submeter o texto a revisões (bem, o motivo principal não é esse, mas não interessa...).

"Mas você já lê, já sabe o que aconteceu e já até escreveu isso tudo. Você inventou p****! Por que precisaria escrever sua invenção para você?" É aí que entram as recentes transformações em minha vida, ou melhor, no meu cérebro. Nunca estive tão convicto de que tenho alguma espécie de Alzheimer que não é bem aquele tal de Mal de Alzheimer. Bem, não sei. Só sei que tenho percebido que não consigo gravar mais nada. Antes era infinitamente melhor (que expressão mais sem lógica essa hein?!). Isso tem seu lado interessante? Ora, dizia o poeta Zezinho da Ema que é melhor ser alegre do que triste. Faz sentido, também é melhor ser otimista do que pessimista. Que pessoa vê o lado bom de seu ônibus quebrar e ter que se mudar com a galera toda pra outro ônibus que já vinha cheio? Pois eu até achei legal. Talvez não preferisse, mas não fiquei lamentando. Tava curioso. O lado bom de ser um jegue desmemoriado é que você se diverte trezentas vezes com a mesma coisa, ou seja, uma coisa que antes era apenas interessante agora é eterna. Bem idiota esse lado bom de ver essa situação né? Ora bolas, é o que resta. Não sei como voltar a ser como antes. Aliás, nem sei se quero. Esse negócio de tomar decisões difíceis não é comigo (não serei juiz, aliás, talvez não só pelo motivo de não querer... :). Estou me guiando quase que instintivamente ultimamente. É. Se eu fosse gordo seria um gnu. Sou praticamente um suricate que se aproveita da época em que aprendia.

Teorias? Bem, é culpa da sociedade de informação e do pós-modernismo. Duchamp também. Não sou culpado das cousas (quero inovar a ortografia...) que não consigo explicar. De nada, nem da miopia, nem do distúrbio tireoidiano e nem dos dentes antes tortos. Aí é Hipócrates explica (até tinha esquecido o nome dele). Já me basta ser culpado das notas da faculdade e de ter criado esse blog. Bem, o que fica claro é que nada me impede de criar teorias esdrúxulas. Pretendo tentar tomar vergonha na cara e aplicar parte do meu método pseudo-empiríco genérico na investigação das minhas teorias. Popper que se dane com aquele papo de que pra ser teoria tem que passar pela falseabilidade e coisa e tal. Ele pode ser o queridinho dos cientistas de hoje, mas não vai me impedir de eu chamar minha porcaria de teoria. Limito-me a explicar que tenho divergências epistemológicas com ele. Certamente ele não ta nem aí pra isso. Mas eu discordo mesmo assim por falta de algo melhor pra fazer neste momento.

Aplicando o meu método, a primeira medida seria me afastar por um tempo considerável de qualquer relação que envolva internet e guitarra. Quase fiz isso ontem e foi um tédio. Senti-me com catorze anos. Lá na época que eu morava em Riachão, não sabia como ligar um computador e ficava de olho duro ao ver uma dádiva tecnológica como ele. Mas eu vou dar um jeito. Parar de discutir proto-filosofia - também conhecida como conversa de doido que não leva alguém a lugar algum (no máximo ao hospício, o que não é um lugar dos mais nobres, ainda que eu ache que tenha lá seu charme. Hã pessoas interessantíssimas lá) - e me concentrar nos dogmas da sociedade atual. Que é que custa? Tenho que eliminar minha aversão a concepções ditas inatas e outras coisas parecidas. Por vezes, me dizem que é questão de entender (modo sutil de me chamar de "meio burrinho"), pois pronto. Vou fingir que entendo e me aproveitar disso. "Pra que tudo isso?" Alguém poderia me perguntar. Bem, depois que eu me lenhei com a tal da razão (conclusão minha, talvez equivocada) adotei uma concepção de mundo e ser muito mais irracional. Coloquei irracionalmente na minha cabeça que precisava [há quem duvide veementemente (palavrinha estranha) de que isso seja possível, mas só pode ter acontecido isso comigo] fazer coisas de mais alcance. Confesso, não é nem de longe o que mais gostaria de fazer, mas... A vida é uma questão de escolhas, já dizia algum filósofo de buteco, e as minhas são o que eu entendo como irracionais.

Há quem diga também que a vida é uma invenção. Essa visão muito me agrada, mas não se adapta às minhas necessidades mais pragmáticas que outrora. É necessário deixar claro que o CD Entropia dos suecos do Pain Of Salvation que estou ouvindo agora é uma dádiva também. Talvez as pessoas sigam uma lógica natural. Uma espécie de trajeto inato que eu não enxergo por algum dos meus vários, conhecidos ou não, distúrbios biológicos. Deficiências de ordem cognitiva ou mesmo causadas por preguiça. Não acho que eu seja de todo desavergonhado como muitas vezes se diz ao tratar-se de diversos aspectos dos meus atos. Ou talvez meu erro (que erro?) esteja apenas em não fingir que tenho certeza e segurança das minhas convicções. Eu deveria fingir que sou um ente superior. Ok. Seria paraguaio. Algumas pessoas não fingem. É como aquela piada velha do meu professor: "50% dos estudantes de direito acham que são deuses. Já os outros 50% têm certeza". Acontece que, por enquanto, prefiro ser uma cópia do que botei na cabeça que funciona a ser um original de pouco alcance. Eu me sinto como o Pain Of Salvation. Talvez por isso o tenha citado. Quer fantástica originalidade mais sem alcance do que aqueles suecos? Desculpem-me pelas analogias incompreensíveis com música. É aquela questão de experiências em ninhos de discussões imbecis que nem todos têm. E é também o caso alzheimeriano de que já tratei. Mas sei lá... Uma coisa dessas deveria ser inata. Ainda tenho a esperança de que Deus e/ou similares (pra não discriminar ninguém) há de concordar comigo e melhorar essa coisa do inatismo na próxima geração. Se é que existem gerações.

Cada vez eu afirmo menos. Isso definitivamente não pega bem. Veja Lula e seus 52% (mesmo contra a Veja e outros organismos poderosos, mesmo contra esse blog, o que impressiona ainda mais). Se bem que na política tudo é meio diferente, mas, mesmo assim, guarda notável relação com o dito mundo real. Não estou afirmando que seria melhor presidente que Lula. Suspeito de que seria, mas cada vez afirmo menos... Me parece claro que temos no Brasil uma superestimação da importância do presidente. O próprio Lula já deu mostras claras de que não manda muito por aqui não. Mais do que um grande presidente (coisa que creio que ele não foi), Lula mostrou-se um excelente político. Suspeito de que ele deve muito ao Duda também (não, não to falando de dinheiro, antes que exijam que eu prove que Lula deve a Duda Mendonça). Duda Mendonça mudou o Brasil. Bem, estou falando do Lula porque ele é uma pessoa famosa, tão conhecida quanto Bono. Mais conhecido até que a saudosa Katilce. Enfim, o exemplo é adequado para que se (eu) entenda a minha idéia e eu nem preciso desenvolvê-lo muito.

Meu método consiste basicamente em me abandonar um pouco. Talvez ser mais altruísta. Bem, há quem discorde de que isso seja possível, mas não quero entrar em papo de psicologia. Nem filosofia. Acho que "o melhor" é um consenso. Um consenso meio sem valor é bem verdade. Por mais que seja estranho dizer que "o melhor" não tem valor. Mas não é "o melhor" no sentido de o melhor. Refiro-me ao "o melhor". O tal consenso sem valor. Ah, dá pra entender. Quer saber de uma? Eu me viro.

Como eu dizia, a linguagem é bastante importante. Por que as pessoas gostam mais de conversar do que de ler livros por exemplo? Dá menos trabalho? Talvez. Mas possivelmente tem muito a ver com a linguagem adotada em cada modo de comunicação. Numa discussão, a preocupação com normas, regras e ordens não é tão grande. A pessoa quer é ser entendida. Não está muito se importando em falar bonito (a não ser que esteja num júri, discursando pra platéias, ou algo similar). Também não é necessário saber como usar a vírgula e tal. Enfim, não precisa eu ficar diferenciando. Notadamente é muito mais fácil falar certo do que escrever certo, ao menos é o que me parece. E na escrita a pessoa sempre tende a enfeitar mais. tem mais tempo e tal.

Outra coisa que me preocupa na linguagem escrita. Ela mostra muito menos o sentimento que está por trás de tudo. Acho que isso também é notável. A língua até criou recursos que visam modificar isso, tais como: reticências, exclamação, aspas etc. Bill Gates criou o CAPSLOCK pra você gritar na internet até. Mas ainda é muito pouco. Juro que tento de alguma forma transmitir mais emoções do que normalmente se faz na linguagem escrita. Mas como não há um código unificado, não há um padrão, muitas vezes minhas tentativas são e serão frustradas. A minha regra principal para tentar atingir esse objetivo é escrever como se estivesse falando e/ou pensando. Não sei se estou certo, mas acredito que isso inclua mais a pessoa na "parada". Ainda mais quando se fala de temas ultra-chatos como eu faço, por saber, como poucos, ser uma pessoa insuportável e de gostos estranhos (Só eu venero o Alphataurus?). Com um tempo, pode ser que a pessoa, por repetição até, se familiarize com o meu código e ele surta o efeito desejado. Vou testá-lo em mim daqui a uns seis meses obviamente.

Enquanto a festa bombava, Zwangsgewalt lia atentamente os papéis que roubou da mesa natalina dos holandeses um pouco antes de dar uma joelhada na bomba no pouso seguro. Ele os enxergou quando estava no ápice e esticou o braço, salvando-os de virarem aquilo que as coisas viram após uma ogiva explodir. Mal sabia ele que encontraria nesses papéis informações talvez mais bombásticas do que a própria bomba.

"Impostor!" bradou Zwangsgewalt contra Alexsofu. Este, por sua vez, ainda estava paralisado por ter lembrado a minutos atrás de que era, na verdade, um espião a serviço da Holanda infiltrado nas bases do inimigo. Sim. Os holandeses foram os responsáveis pela sua reincorporação à sociedade. Eles foram os seus reeducadores e Alexsofu era muito grato a eles. Até porque eles o ensinaram que ele deveria ser. Os holandeses confiaram a ele a missão de descobrir os planos do inimigo e entregá-los no momento certo. Porém, Alexsofu acabou se habituando à rotina dos tais "inimigos" de tal modo que se esqueceu completamente de que era um espião holandês com o passar dos dias. Coisas de ex-selvagem talvez. Pois... O fato é que ao lembrar de tudo isso ele ficou meio louco e já não sabia bem o que fazer.

Todo mundo esperava uma explicação de Zwangsgewalt e ele a deu. Disse que tinha em mãos os documentos oficiais dos inimigos holandeses, assinados pelo chefão Major Tharick que indicavam que Alexsofu estava a serviço da Holanda. No papel havia os claros dizeres: "Alexsofu é o espião que vai enganar os otários dos inimigos. Aqueles burros! Hahahaha!" (ipsis litteris). Não havia mais dúvidas. A decepção de todos foi muito grande, mas não havia tempo para decepções. Cercaram Alexsofu, apontaram as armas e ordenaram que ele não se movesse. O que será que vai acontecer?

Não perca o último capítulo de "Iminente tragédia de conseqüências nebulosas." Aham. É esse o nome da... Foto-novela, talvez... Enfim, não perca!

EPISÓDIO XX - The Final Round... Fight!


Episódio XX: Eu iria começar esse capítulo de uma forma muito boa. Juro. Sei que isso nunca acontece, mas juro que ia. Até ontem, às 15 horas, eu lembrava perfeitamente de como iria começar esse episódio. Só que minha memória... Ao menos lembrei do fim. Tomara que eu não esqueça durante os próximos parágrafos. Mas vamos aos brigadeiros... (Estou lançando essa nova expressão aí pra galera. Tomara que pegue e eu me beneficie financeiramente de alguma forma)

O último episódio é rápido e caceteiro. Ritmo dinâmico que conduz ao gran finale:

Cena I - Estalos: Alexsofu não estava satisfeito. Sentia-se muito confuso. Foi então que teve o segundo estalo. Olhou para o grão-marechal Adis Adeba e balançou a cabeça em reprovação. Adis Adeba "engoliu seco" e virou a cara. Alexsofu é levado para a prisão de segurança máxima.

Cena II - Cárcere: Cena da foto. Zwangsgewalt sente que colocou os malfeitores nos seus devidos lugares. É promovido a agente carcerário provisório e não cabe em si de tanta honra. Lembrou-se dos seus melhores tempos, de quando era oitava série. Era o mais estudioso, mais simpático, mais bonito, mais pegador, (também era o artilheiro do seu time e campeão de W11) mais forte, mais rápido, mais perspicaz, mais perseverante, mais honesto, mais gente boa, mais supimpa do seu Estado (pelo menos esse era o universo de pesquisa das universidades que concluíram isso tudo). Comparou os momentos antigos com este de agora e chegou a conclusão de que havia chegado no ápice. Mas sua obediência cega às leis, regras e autoridades era mesmo um atestado de competência. Na cabeça dele sim, mas e na minha? E na sua? E na de Alexsofu?...

Cena III - Servo da ordem: "Está cometendo uma injustiça!" Bradou Alexsofu contra Zwangsgewalt. Este o ordenou que se calasse e que todo o direito que tinha era o de ser julgado pela corte e o de permanecer calado. O pensamento de Zwangs naquele momento se resumia a ele e a lei. Ele certamente até achava que Alexsofu era mais que culpado, mas não estava nem aí pra isso de justo ou injusto no momento.

Cena IV - Julgamento: Dia 26: A prova era irrefutável. Estava tudo muito claro. Alexsofu servia a interesses indignos até para um quadrúpede. Logo, não houve discórdias após o juiz decretar a sentença.

Cena V - Não podia faltar o... : "Parem este julgamento!" É o grito que ecoa dos fundos. Numa daquelas clássicas (pois "manjadas" pega mal) cenas em que um apressado ser humano abre as portas de um recinto de julgamento; diz, suado e ofegante, que tem algo a dizer e todos olham para trás exclamando um "ohhhhhh". Juiz Keen até argumentou que a ordem era inútil e o julgamento já havia acabado. Mas, e daí? Todos queria ouvir o que o grão-marechal Adis Adeba tinha a dizer (afinal, quem não gosta de quebra de protocolos, suspense e movimento?). Alexsofu principalmente. Ele nunca entendera (depois do segundo estalo) porque o grão-general não o ajudou, afinal, nele sozinho ninguém acreditaria. Além disso, mentir para escapar de uma acusação pode agravar gravemente a pena de acordo com o regimento militar das Forças Adjacentes e ele temia isso. Alexsofu já estava pensando em tentar, mas, além de tudo, não tinha certeza de que seu segundo estalo era mesmo referente a algo real ou apenas uma invenção esquisita causada pelas substâncias alucinógenas que ele costumava usar (na verdade lambia sapo do colorado, reconhecidamente alucinógenos, trazidos de Queensland, Austrália. Era algo bem discreto. Ninguém suspeitava do que se tratava). E se fosse apenas mais uma invenção inconsciente? Preferiu não arriscar, pois, como já foi dito, poderia agravar a sua pena. O certo é que agora ele sentia que estava certo e que não tava doidão.

Cena VI - O Relato: "Graças a Deus estou vivo. Sei que vocês estão surpresos, mas já saí de comas alcoólicos piores! Vocês também devem estar surpresos por eu estar aqui, de cueca, pedindo pra não julgarem este rapaz ainda. Pois bem, explico. Eu já tava muitcho doidho quando o Zwangs gritou não sei que lá do papel holandês naquela noite. Tentei associar algo com algo. Lembro de ter visto o pessoal levando o Alexsofu pra prisão preventiva, mas algo me dizia que tinha algo de errado naquilo. Não lembrava o que era, tava muito doido, mas sabia que tinha e fiquei angustiado quando ele olhou pra mim parecendo esperar que eu fizesse algo. Bebi um pouco mais pra ver se lembrava, ou entendia alguma coisa da situação. Aí que deu m****! Não lembro mais de nada depois. Só sei que acordei nestante, não estou mais avoado e, graças a Deus, lembrei do que tentava lembrar logo após abrir os olhos. Já sei o que aconteceu. Sabia que não podia perder tempo. Imaginei que vocês já estariam aqui julgando o rapaz, levantei rapidamente da cama e não pensei em mais nada, vim correndo o mais rápido possível a fim de evitar a grande injustiça. Vocês entenderam tudo errado a respeito desse inocente rapaz, um bom selvagem, afinal, os senhores não sabem das coisas que eu sei a respeito dele. Na verdade...

Cena VII - Rebuliço: O juiz tentava controlar o tumulto e a gritaria, mas depois de ter fraturado a sua mão com potentes marteladas na mesa com o intuito de conseguir silêncio, desistiu e resolveu tirar uma sesta enquanto as coisas não se acalmavam. A platéia estava dividida. Metade queria condenar Alexsofu e a outra metade absolvê-lo. Este último grupo acreditava, sem contestação, nas palavras de Adis Adeba, mesmo ele não tendo explicado o porquê de sua afirmação. "Se ele diz que o cavernoso é inocente, então é porque ele é, p****!" O grão-marechal era tido por todos como homem probo, honesto e incorruptível. A parte da platéia que queria condenar Alexsofu alegava que o grão-marechal, embora não estivesse mancomunado com o inimigo, ainda estava claramente bebado e inventando contos que o fizessem crer que era um herói. Coisa de bêbedo mesmo. As partes não se entendiam. A decisão judicial não tinha mais nenhum valor depois da surpreendente intromissão. O que importava agora era o que cada um entendia como justo. Cadeiras voavam. Sangue, muito sangue! O famoso quebra-pau generalizado. A mais velha e tradicional maneira de resolver pendengas. Zwangsgewalt ficara confuso e sem ação diante de toda aquela atrocidade cometida por todos os presentes contra a ordem. Ele lamentava a situação em pensamento: "E pensar que tudo isto aqui poderia ter sido evitado caso Adis Adeba não tivesse falecido logo quando ia revelar a tal da verdade. Ainda que acreditassem que ele estava bêbado, bastaria esperar uns dias e perguntá-lo novamente qual a tal verdade. Se ele estava bem ou se foi tudo uma invenção. Agora ninguém quer esperar. Não há mais como provar nada. A dúvida reina e a barbárie impera."

Cena VIII - Run To The Hills: Alexsofu pode ser burro e selvagem talvez, mas não é besta. Além disso, tem instinto de sobrevivência aguçado por anos na selva. Um quebra-pau retado, juiz dormindo, alguns tão inflamados que já queriam matá-lo ("É tudo culpa daquele corno ali!") pra resolver tudo logo, seguranças tentando pacificar a situação e Zwangsgewalt pensando na morte da bezerra...

Cena IX - Agora vai?: "Cadê aquele 'fio da égua'?" Dez minutos após Alexsofu passar o sebo nas canelas (expressão surgida na época dos escravos. Eles passavam sebo nas canelas para avançarem mato a dentro em velocidade e sem sentir dor nas pernas quando elas batessem nas folhas e insetos) em direção as colinas que só ele sabe escalar. "Diabo! O cabra sumiu!" Aos poucos, todos começaram a perceber que o motivo da briga havia picado a mula e já se encontrava bem longe, sabe-se lá onde (eu sei), dali. A todos os presentes isso pareceu um motivo razoável para se interromper abruptamente a pancadaria geral. Não havia mais motivo para tal. Todos atônitos. Ninguém sabe o que fazer. Eis que chega o grão-duque-marechal-geral das Forças Adjacentes, o mexicano Paul Torrado. "Mas que diablos se pasa aquí? Parece até que eston en la playa!" Praticamente todos reconhecem o chefe supremo que antes só viam por fotografias e ficam de joelhos. "Bundulundungum me dise qué viesse rápido y no entiendi nadie. Chego aquí e acho isso. Qué se passa?" O comandante botswanês explica à eminente figura que descobriu-se, na noite de natal, que Alexsofu era, na verdade, um traidor e narra todo o acontecido até o presente momento. "Dios! Adis Adeba es miesmo un tapado! Me dise a min que habia tenido un éxito completo. Me despreocupé. Debe terner sido después de la cachaça. Cretino!" Eis que Bungulungudum pergunta: "Devemos organizar uma expedição para encontrá-lo e prendê-lo?" "No! Estás loco? Y miesmo que quisésemos, no más encontraríamoslo" responde rispidamente Torrado. "Por otra parte, ustedes aunque no saben de la vierdadera verdad! Yo voy les contar..."

Cena X - Agora com tradutor: "No se puede... Ops... Não se pode tirar conclusões precipitadas como vocês tiraram. Tudo era um plano meu e do grão-marechal Adeba. Nós contratamos (capturaram na verdade) Alexsofu, educamos ele, combinamos um plano e jogamos ele próximo a selva holandesa. Os holandeses o acharam, acharam que educaram ele e que ele iria trabalhar para eles. O plano que combinei com Alexsofu era o seguinte: ele iria se infiltrar, do modo como de fato aconteceu, investigar tudo o que pudesse, iria dar um jeito de pedir, após ganhar confiança e parecer já civilizado aos holandeses, para trabalhar de espião para eles. Ele iria dar essa idéia. Os holandeses iriam achar uma boa e mandar Alexsofu de volta para nós em segurança, achando que ele ia nos espionar. Era o modo que eu tinha de mandar um espião e recebê-lo de volta sem perigo. Se ele fugisse sem dar explicações ficaria marcado ou mesmo poderia acontecer alguma coisa na fuga. Fazia parte da parte seguinte do plano mandá-lo para destruir a terrível ameaça, caso ele chamasse a atenção e fosse pego durante essa fase e antes de eliminar o alvo, o que ainda bem que não aconteceu, poderia, ainda, usar a desculpa de que voltou, com um amigo, do seu trabalho de espionagem e passar informações quaisquer pra tapear os holandeses, o que não precisou. O negócio deu certo, Alexsofu voltou em segurança, só que o burro não tinha anotado (nem na mente) os detalhes da base deles. Ele havia esquecido. Por isso, mandei o incompetente a um lugar próximo para tirar fotos da base pelo alto e ver seus detalhes com o binóculo, lembram? Quando reuni todas as informações necessárias, ordenei a batalha final e os dois guerreiros deram conta do recado. Encarreguei Adeba de explicar tudo isso que estou explicando agora, mas o idiota começou a beber antes do final da batalha. Aí não dá! Quis manter em segredo para que houvesse o menor risco possível dessa informação cair nas mãos do inimigo. Vai que eles tivessem um espião também entre nós? Ou mesmo um tagarela saísse espalhando por aí? Devido a isso, ficou tudo entre mim e Adeba. Sobre Alexsofu, pensei que esse negócio de ressocialização fosse algo mais simples. Sinceramente, não esperava que ele desse uma louca e matasse Matossas naquele dia, mas como ele era essencial ao plano, o Adeba tomou a correta decisão de não puni-lo, mas também não precisava exagerar condecorando-o. Não sei o que é que o Adeba tinha na cabeça! Estranho foi que o Alexsofu não se defendeu nenhuma vez da acusação pelo que Bulundungunlum acabou de me contar. Foi isso mesmo? Nem depois que o Adeba faleceu, segundo vocês, a minutos atrás? Ele sabia que o Adeba ia revelar tudo logo após a batalha final. Depois que ele caiu duro, Alexsofu devia ter gritado a verdade que Adeba não pôde contar. Vai ver ficou com medo de ninguém acreditar nele, se assustou coitado. Pode ser também que Alexsofu esteja confuso com as mudanças rápidas ao ponto de nem ele mesmo saber de que lado está afinal. Eu deveria ter me preocupado com isso, desconfiado de que um ex-selvagem poderia ficar meio maluco com tão modernas táticas de combate. Ele deve ter concluído que era melhor voltar a vida de selvagem e achá-lo de novo será quase impossível. Uma pena!"

Cena XI - Welcome To The Jungle: Alexsofu está de volta ao lar. Cansou daquela doideira. Já se passaram quatro dias desde que deixou a tal civilização. Quatro dias de paz. Pra ele tava ótimo, nada pra reclamar. Ficou esses dias sem lamber sapo alucinógeno e teve certeza de que era inocente e de que o segundo estalo fora real, mas, decidiu que mesmo que não houvesse risco de voltar (pensou que certamente não haveria, pois, a uma altura daquela, Torrado já haveria de ter explicado tudo) ficaria na selva mesmo. Era tudo bem menos complicado. Achava os homens da selva de pedra meio "desevoluídos". Seres confuseiros mesmo, que não entendem o simples do simples. Haviam convencido ele de que aquilo tudo do mundo civilizado era legal. Ele, por ser um rapaz meio curioso e ingênuo, botou fé e experimentou. Agora fez sua escolha. Certamente definitiva.

End Scene - Festa: Como toda boa (boa?!) novela da Globo, esta aqui também termina numa festa feliz com todo mundo comemorando a beleza que é a vida. Uma celebração linda de fazer até Nietzsche chorar (do que trata aquele livro "O dia em que Nietzsche chorou"?). Depois da tragédia do julgamento (dez mortos e dezoito feridos gravemente) nada melhor que uma festa de comemoração por tudo ter se esclarecido. Até brinde a Alexsofu teve. Pena que Zwangsgewalt não gostou e tomou os copos de quem brindou e quebrou violentamente todos eles nas cabeças dos animadinhos. Ora, foi ele quem deu o golpe de misericórdia na batalha e tudo. Além disso, Zwangs é tão chato que dói. Alguns acharam que ele tinha razão, outros acharam um exagero. Os grupos se dividiram numa discussão que... Digamos... Evoluiu para uma batalha com garrafas, socos, pontapés e golpes baixos.

O time anti-Zwangsgewalt estava levando uma porrada feia, afinal, Zwangs luta feito o demônio, mas... Eis que surge velozmente das selvas, tal como uma ave de rapina, Alexsofu! Pois, ele já chegou foi de voadora, bagunçando geral e equilibrando a parada. Bem, pode-se dizer que desde então... TODOS VIVERAM FELIZES PARA SEMPRE!

FIM

Moral da história: Como diria o grande mestre do humor trash: Uma coisa é praticamente uma coisa. Outra coisa é praticamente outra coisa!

domingo, agosto 27, 2006

Breves divagações acerca da obra:

Divagações: "Kant é um babaca." De acordo com Perelman, essa é uma boa maneira de se iniciar uma má-argumentação. Certamente, não há nada mais babaca, do ponto de vista racional (talvez apenas esse termo seja mais babaca), que argumentar que o outro é babaca. E no "mundo real"? Perelman é adequado, metonimicamente (?) falando? Sei lá, isso não me interessa. Vou ao que me interessa:

"Muito longe daquilo tudo, um cinegrafista amador filmava o estranho acontecido. Nascia o anteprojeto de 'Clube da Luta'!"

Muito pior que meu final. A sugestão acima tem os seguintes defeitos:

1 - Hermes e Renato já fez piada um pouco semelhante em um de seus melhores quadros: Este aqui
2 - Nem todo mundo conhece "Clube da Luta".
3 - Muito meio nada a ver com a trama esse final aí.
4 - É uma porcaria.

Agora... Chegar de voadora inesperadamente... Isso sim é pressão! Pense quando Hollywood (O Sílvio se negou! Sacanagem!) comprar meus direitos autorais. Trilha sonora já tocando e tal, parecendo que o filme vai terminar no quebra-pau desigual mesmo, a vitória de Zwangs, câmera já se afastando... De repente, A câmera volta numa aproximação closática veloz; dá um slow e gira 360 graus (mais que isso é meio brega) durante a voadora de dois metros de Alexsofu (acompanhada, obviamente, de grito ninja). Mudança repentina para velocidade normal e figurante levando uma porrada feia e caindo ("Uh!"). Seria algo como Lindomar , ele golpearia e já sairia correndo derrubando mais uns dois figurantes babacas a frente. Zwangsgewalt olha surpreso em meio à confusão e dá um pique, intensificando o empenho na batalha. Câmera aérea. Volta a se afastar lentamente e entra a tela preta com uma musiquinha pressão! Tudo isso em uns quinze segundos.

Acho que vou chamar de foto-filme. Foto-novela de ação não é algo muito comercial, não tiro as razões do Sílvio. Foto-seriado é uma concessão mercadológica. Não e não!

Está mais do que na cara que, ao final da trama, várias indagações filosóficas, psicológicas e psicofrênicas* surgem na mente de todos. Uma delas é a posição de Zwangsgewalt perante a realidade. Confabulemos:

Se excluirmos os traços psicopatológicos (e os frênicos também) do nobre guerreiro, o que temos é um pretenso defensor da ordem e da lei a todo custo. Não temos na figura de Gewalt um defensor da justiça. Ao contrário dos seriados e filmes fubangas propagadores do maniqueísmo de quinta que tanto agrada aos estadunidenses, não existe a figura do rapaz dotado do mais incontestável senso de justiça. Aquele que pode ter defeitos, mas segue o imperativo categórico. Esse ser mitológico que seria digno de pertencer à sociedade dos homens de bem que, talvez, só exista na cabeça de Kant e do resto do mundo {ou só na cabeça dos sabidos, pode ser, ou na dos que dominam a gramática [numa visão mais marxista (caso busquemos os primórdios disso tudo)]}. No mundo do "dever-ser" (inútil. Inútil!) de Kant, o direito é submisso à moral. O direito é bonzinho (nasce da ética, que nasce da razão que sabe a priori o que é o "certo"), pois visa concretizar um bem comum invariável. Ele se origina da lei moral que todos temos dentro de nós. Aliás, nesse mundo aí, nem se precisa de Direito, visto que o homem é um exemplo de moralidade. A liberdade é praticamente a felicidade. E para que a liberdade impere basta seguir o imperativo categórico. Kant acredita nessa entidade abstrata chamada "bem". Sei que exagero, mas, este microuniverso aqui - o blog - é meu. Eu sou a autoridade e ele, obviamente, nasce da minha vontade. Que se dane se ele é imbecil ou anti-racional ou sabe-se lá o que.

Vale lembrar que Kant era religioso ao ponto de ser alvo de piadinhas até hoje. Aliás, talvez esteja aí a explicação dele falar em mundo transcendental perfeito e cheio de absolutos, logo ele, que trouxe um questionamento gnosiológico revolucionário (limites do conhecimento humano e tal). Talvez, aí se explique também essa crença na lei moral universal. Não estou dizendo que religiosidade é sinônimo de fraqueza. Eu, que desconfio de que era mais esperto quando tinha meus catorze anos, nunca diria isso, eu acho. Nem ateu eu sou por sinal.

Oh a lei moral universal! Kant que me perdoe, mas, hoje, não quero concordar com ele. Olha que legal essa definição do imperativo categórico kantiano aqui. Leia o resto do texto e veja como Kant acreditava que iria salvar o direito para sempre das garras do relativismo moral. O filósofo alemão não conhecia as "pragas" que estavam por vir. Um pouco mais sobre a "Lei de ouro" aqui.

Dou um desconto a Kant. Ele não acreditava no homem essencialmente bonzinho (o Direito existe devido às imperfeições humanas). Fez até uma frase sobre madeira, que, ao final das contas, queria dizer que nenhum homem era exemplo incontestável de retidão. Gosto, inclusive, da parte mais "bonitinha" do seu pensamento, que é quando ele afirma que mesmo sabendo que só se possa alcançar a justiça absoluta no mundo transcendental (teoria dele lá), devemos agir como se isso fosse possível aqui neste mundinho idiota. Também, quem não gosta de algo tão cristão? (Sim. A obra do filósofo alemão tem um quê de auto-ajuda :) As conseqüências disso tudo também são bem aceitáveis. Através do imperativo categórico torna-se possível um Estado de Direito de pretensões universais (vai ver foi daí que partiu John Lennon para criar aquela teoria do Estado meio estranha lá). É a moralidade unindo a raça humana.

O contrato social em Kant é algo natural. Nada muito histórico ou empírico não. Para ele, o homem sabe que a anarquia e o despotismo são formas que consagram a desproporcionalidade entre ordem e liberdade. Por isso mesmo, para que o contrato social dê certo, ele deve ser fincado em valores liberais (não no sentido pejorativo da palavra) e universais protegidos por autoridades competentes capazes de manter a ordem. O contrato social é, portanto, mais que a origem da sociedade, é a sua razão de existir. Não pode ser considerado um mero fato histórico.

Numa coisa Kant está certo. Não dá pra deixar de acreditar na justiça. Por isso mesmo, muitos criam e crêem (n)a tal justiça eterna ao observarem uma intolerável falência moral da justiça humana. Kant crê na justiça universal, daí um dos motivos de ele acreditar na possibilidade de um juiz ser imparcial. O juiz legal é aquele que se livra o máximo possível das questões subjetivas. Bem, Kant me mostrou que não posso ser bom juiz e sou grato a ele por isso, ainda que eu não acredite totalmente (parcialmente? Eu não sei) em Kant.

"Tópico isolado - Kant e a moral: Só pode ser mentira. Apenas depois de milhares de anos alguém resolveu diferenciar direito de moral? Essa 'conquista' de Kant é meio estranha. Está certo que 'caráter coativo do direito' vem desde Thomasius, segundo o que acabei de ler, mas ele não chegou a estabelecer critérios sólidos de diferenciação entre direito e moral. Estranho."

Liberdade, livre arbítrio (a obediência à lei moral vem da nossa vontade), culpabilidade, heteronomia do direito, existência da moralidade como algo essencial à existência da legalidade... Tanta coisa relacionada a este grande filósofo. Mas deixa pra lá.

"Tópico isolado II - da fraqueza das idéias etmiométricas: Aham. Esse é o termo que eu acabo de inventar para denominar minhas considerações. Chamo isso de psicologia da linguagem com toques especiais etmiométricos. Sou um eterno reclamão (ainda falo mal do Parreira e de outras figuras que cometeram coisas terríveis inclusive) e devido a isso, volto a reclamar do tempo insuficiente e da minha falta de competência organizacional para fazer todas as correlações e desenrolamentos de tudo o que eu afirmo. Lamento pelo único motivo de que, no futuro, sei que não lembrarei de quase nada que complementaria os textos. O que hoje pra mim é natural e simples, amanhã será de uma obscuridade talvez maior até de que a que um hipotético leitor teria ao se deparar com essas tralhas aqui. Enfim, minha memória é a coisa mais lamentável que existe. Eternizado PONTO FINAL"

Pode-se até argumentar que Zwangsgewalt é um reflexo do predomínio da corrente positivista na maneira de se pensar o Direito e as formas mais brandas de controle social; dizer que uma lavagem cerebral bem feita pode deturpar a lei moral universal fazendo com que esta se confunda com o imperativo hipotético (também kantiano e relacionado à legalidade); ponderar que ele até conhece a lei moral universal, mas que não a segue só pra pirraçar o falecido filósofo (essa ia ser bem tosca, é verdade). Bem, o fato é que Zwangsgewalt não estava nem aí pra filosofia kantiana. Ele pouco se indagava sobre qualquer coisa desse tipo, apesar de ser gênio da física e da matemática, e assim se manteve até o final da história. Para o brasileiro, moralidade era legalidade (não é uma característica do positivismo jurídico, mas era uma escolha dele, que por sinal, não tinha idéia do que era positivismo jurídico ou qualquer coisa do tipo. Pensava como um soldado).

E o positivismo jurídico? Esse negócio de "Ai, vamos fazer uma ciência do direito. Tem que ser avalorativo viu?!" (sem gozação, juro). Não vou nem falar do paradoxo kelseniano, afinal, para mim ainda é mais que um paradoxo. Sinceramente, fico confuso (novidade...). Ta certo que isso nunca foi motivo pra eu deixar de falar sobre nada, mas juntando-se às necessidades mais pragmáticas... Já viu né? Bem, ele pressupõe o respeito à autoridade competente. É o império da norma. Pra que tudo isso? Ora, Kelsen (e amigos), assim como todo mundo, pretendia alcançar o conhecimento verdadeiro. Para isso, era necessário tornar o direito algo objetivo. Daí a teoria do ordenamento kelseniana e todas as "presepadas" subseqüentes. Baniu-se a justiça da ciência do direito e rejeitou-se qualquer definição de direito que tinha carga valorativa. Kelsen queria organizar o Direito. Vontade, autoridade, todas essas coisas meio frias ganharam força (que poético!). O que é que eu quero?

Bem, resolvi ser radical e estive pensando nos motivos primeiros [sem papo babaca (lembrando: sem querer ser pejorativo) psicológico] que levaram Kelsen a elaborar toda a sua teoria. Assim como todos, o mestre de Viena certamente pretendia tornar o direito algo cada vez mais justo. Sei lá, creio que essa seja uma pretensão universal. Qualquer jusfilósofo, ou melhor, qualquer pessoa que leve o direito a sério deseja isso. Bobbio diz claramente que o positivismo jurídico não tem relação direta com o positivismo de Comte, mas, segundo eu percebo, Kelsen tinha uma fixação pela ordem bem suspeita. Ok, todo cientista (o social também portanto) tem fixação pela ordem, mas qual o valor que predomina na obra de austríaco? Acredito que seja o respeito à autoridade legitimada. Há uma perceptível relação disso tudo com a noção de segurança jurídica. Tendo-se em vista as tais "causas primeiras", o maior expoente (uso esse termo sem querer ser valorativo) do juspositivismo, ao que tudo indica, acreditava na possibilidade de se alcançar a justiça (bem comum ou alguma noção parecida) através de uma sociedade em que todos pudessem facilmente agir de acordo com a lei. O que pretendo dizer é que uma teoria não nasce do nada. Uma teoria do Direito só pode ter como objetivo principal a otimização deste, portanto, não há como fugir do valor como ponto de partida e Kelsen certamente sabia disso. Certamente, ele acreditava que a maior contribuição que o direito poderia dar a humanidade (sentido lato) era um sistema normativo ordenado e coerente (pra ser sucinto).

O progresso é um consenso? Também creio que ninguém se opõe ao progresso em si mesmo. Todos querem o progresso da humanidade? Todos sabem que eu temo qualquer teoria que se proponha universal ou afirme que algo é natural do ser humano. Todavia, se há um objetivo comum a todos os homens... Heródoto está certo com aquele negócio lá do rio, portanto, se as coisas estão sempre mudando, que seja pra melhor. Veja como parece uma obviedade. Por isso meu fascínio pela idéia de progresso. Ela é tão abstrata que, em seu sentido puro (se é que existe), é praticamente um sinônimo da palavra "melhor". Kelsen, como jurista pertencente (creio eu) a isto que chamamos de humanidade, não poderia fugir dessa atração que o progresso exerce sobre todos possivelmente. Odeio (juro) ser determinista, mas a Teoria Pura do Direito não pode ter nascido desprovida de valores, se é que ainda há alguma dúvida sobre isso. Parece-me, mais do que nunca, que toda teoria é o caminho correto para se chegar ao progresso (ainda que não se saiba a abrangência dela) de acordo com o autor da mesma.

Conclui-se, grosso modo (aliás, toda conclusão é grosso modo :), que o positivismo jurídico é a consagração da ordem e da segurança jurídica como fatores que levarão ao progresso. Se é que ficou entendível tudo que eu quero dizer com cada uma dessas palavras. Claro que não estou fazendo ciência. Pode chamar de pseudociência ou lixo (aliás, lixo não, pois, infelizmente, este é util pra muita gente e isso em pleno século XXI). Eu chamo, num contexto geral, de divagações preliminares sobre "os algos" muito desconhecidos.

Um sistema jurídico nem sempre é justo e esse é um dos principais perigos de se confiar tudo a uma dita "visão objetiva" das coisas. A propósito, seria esta uma ilusão? Mera especulação que faço. Não se trata de uma proposta de violação do princípio da separação de poderes, mas sim de um debate sobre as formas de se interpretar o direito. O que tenho percebido é que a definição de Direito está, inevitavelmente, atrelada a algum valor, ainda que camufladamente. Uma definição universal até me parece, às vezes, possível, mas, seria por demais abstrata. Enfim, é um problema muito mais importante do que, às vezes, parece.

Pois bem, o fato é que Zwangsgewalt, como muitos guerreiros, vivia guiado por valores rígidos. E os dele eram facilmente perceptíveis (principalmente tendo-se em vista as cenas II e III do último episódio). Talvez, se não agisse como um exegeta (que, cá pra nós, é um positivismo Hezbollah), não tivesse contribuído para a consolidação de uma ou outra situação injusta. Mas, tudo bem, os mais empiristas podem argumentar que ele nada sabia de Hermenêutica ou Sociologia e que só ensinaram ao animal a arte de resolver cálculos e seguir ordens. Alguns vão dizer que a função dele era aquela mesmo e pronto e outros que ele não tinha conhecimento amplo da situação. Outros outros buscarão ângulos alternativos para observar o fato e por aí vai. Só digo uma coisa: Diga-me quem é Zwangsgewalt que eu te direi quem és...

Bem, será difícil que se entenda, mas... Duas coisas me enchem o ânimo de admiração e respeito: o céu estrelado acima de mim, aliás, não, isso é coisa de quem vivia em tempos atrasados... Uma coisa me enche o ânimo de admiração e respeito: a lei irracional que existe em mim.

*neologismo que teve seu nascimento com o advento de Breno.

Oitava maravilha. Ouça todo dia.

Como você pode ver nos links do blog há o que eu chamo de lista das seis melhores coisas que se pode encontrar na internet. Só pra reforçar:


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Mais nada a acrescentar.

27/08: Início dos trabalhos

Blog dedicado às mais diversas manifestações artísticas de qualidade questionável e pseudo-poesia de gosto duvidoso. Além disso abordaremos relevantes concepções metafísicas de mundo do panorama universal. Se bem que a ontologia e a gnosiologia são o nosso forte. Enfim, confesso, estou enrolando (e mal). Não sei pra que serve esse blog. Tampouco sei escrever.