
Episódio XIX: "Lembrei!" Assim foi o estalo em voz alta que Alexsofu teve no meio da festa de comemoração. Ninguém entendeu direito. Só se sabe que assim que ele lembrou do que havia esquecido de fazer ficou preocupado, calado e reflexivo (embora isso não tenha tido qualquer influência na voracidade com que devorava os brigadeiros e demais coisas comestíveis do local).
Bem, o importante mesmo é que a missão teve final feliz. Todos brindavam felizes. A foto oficial da batalha de Lassftroops Beyond The Pale demonstra bem a cara de sucesso e orgulho do que fora feito por parte dos dois heróis. Agora, porém, Alexsofu estava cada vez mais preocupado...
Bem de novo, diziam freqüentemente Tales de Mileto e Parmênides: "Um pouco de metalinguagem não faz mal a ninguém". E era nisso que eu pensava enquanto tentava estudar Hermenêutica. Afinal, como se escrever um texto?
Momento extremamente personalista do texto: É certo que eu não devia me fazer essa pergunta, assim... Bem... No final da foto-novela ou foto-seriado, sei lá. Mas, eu me dou bem comigo mesmo. Falemos da linguagem. É pertinente afirmar que ela deve se adequar ao público que quer alcançar. Tomemos o exemplo deste blog. A linguagem é confusa, tem neologismos, estruturas inventadas, há erros de ortografia e concordância nos textos, o chamado "mau emprego" de sinais e pontuação, enfim, uma porcaria completa. Acontece que o meu público-alvo é nada mais nada menos do que eu mesmo. O próprio aqui que vos fala. Luis XIV disse certa vez que era o Estado. Pois eu sou o Estado e o povo. Eu sou o limite, o parâmetro para qualquer coisa aqui neste site. Logo, a linguagem precisa apenas conseguir não me confundir. O dever dela é combinar comigo e fazer com que eu tenha uma leitura rápida e dinâmica. Ninguém melhor para escrever atendendo a esses requisitos que eu. Daí eu não submeter o texto a revisões (bem, o motivo principal não é esse, mas não interessa...).
"Mas você já lê, já sabe o que aconteceu e já até escreveu isso tudo. Você inventou p****! Por que precisaria escrever sua invenção para você?" É aí que entram as recentes transformações em minha vida, ou melhor, no meu cérebro. Nunca estive tão convicto de que tenho alguma espécie de Alzheimer que não é bem aquele tal de Mal de Alzheimer. Bem, não sei. Só sei que tenho percebido que não consigo gravar mais nada. Antes era infinitamente melhor (que expressão mais sem lógica essa hein?!). Isso tem seu lado interessante? Ora, dizia o poeta Zezinho da Ema que é melhor ser alegre do que triste. Faz sentido, também é melhor ser otimista do que pessimista. Que pessoa vê o lado bom de seu ônibus quebrar e ter que se mudar com a galera toda pra outro ônibus que já vinha cheio? Pois eu até achei legal. Talvez não preferisse, mas não fiquei lamentando. Tava curioso. O lado bom de ser um jegue desmemoriado é que você se diverte trezentas vezes com a mesma coisa, ou seja, uma coisa que antes era apenas interessante agora é eterna. Bem idiota esse lado bom de ver essa situação né? Ora bolas, é o que resta. Não sei como voltar a ser como antes. Aliás, nem sei se quero. Esse negócio de tomar decisões difíceis não é comigo (não serei juiz, aliás, talvez não só pelo motivo de não querer... :). Estou me guiando quase que instintivamente ultimamente. É. Se eu fosse gordo seria um gnu. Sou praticamente um suricate que se aproveita da época em que aprendia.
Teorias? Bem, é culpa da sociedade de informação e do pós-modernismo. Duchamp também. Não sou culpado das cousas (quero inovar a ortografia...) que não consigo explicar. De nada, nem da miopia, nem do distúrbio tireoidiano e nem dos dentes antes tortos. Aí é Hipócrates explica (até tinha esquecido o nome dele). Já me basta ser culpado das notas da faculdade e de ter criado esse blog. Bem, o que fica claro é que nada me impede de criar teorias esdrúxulas. Pretendo tentar tomar vergonha na cara e aplicar parte do meu método pseudo-empiríco genérico na investigação das minhas teorias. Popper que se dane com aquele papo de que pra ser teoria tem que passar pela falseabilidade e coisa e tal. Ele pode ser o queridinho dos cientistas de hoje, mas não vai me impedir de eu chamar minha porcaria de teoria. Limito-me a explicar que tenho divergências epistemológicas com ele. Certamente ele não ta nem aí pra isso. Mas eu discordo mesmo assim por falta de algo melhor pra fazer neste momento.
Aplicando o meu método, a primeira medida seria me afastar por um tempo considerável de qualquer relação que envolva internet e guitarra. Quase fiz isso ontem e foi um tédio. Senti-me com catorze anos. Lá na época que eu morava em Riachão, não sabia como ligar um computador e ficava de olho duro ao ver uma dádiva tecnológica como ele. Mas eu vou dar um jeito. Parar de discutir proto-filosofia - também conhecida como conversa de doido que não leva alguém a lugar algum (no máximo ao hospício, o que não é um lugar dos mais nobres, ainda que eu ache que tenha lá seu charme. Hã pessoas interessantíssimas lá) - e me concentrar nos dogmas da sociedade atual. Que é que custa? Tenho que eliminar minha aversão a concepções ditas inatas e outras coisas parecidas. Por vezes, me dizem que é questão de entender (modo sutil de me chamar de "meio burrinho"), pois pronto. Vou fingir que entendo e me aproveitar disso. "Pra que tudo isso?" Alguém poderia me perguntar. Bem, depois que eu me lenhei com a tal da razão (conclusão minha, talvez equivocada) adotei uma concepção de mundo e ser muito mais irracional. Coloquei irracionalmente na minha cabeça que precisava [há quem duvide veementemente (palavrinha estranha) de que isso seja possível, mas só pode ter acontecido isso comigo] fazer coisas de mais alcance. Confesso, não é nem de longe o que mais gostaria de fazer, mas... A vida é uma questão de escolhas, já dizia algum filósofo de buteco, e as minhas são o que eu entendo como irracionais.
Há quem diga também que a vida é uma invenção. Essa visão muito me agrada, mas não se adapta às minhas necessidades mais pragmáticas que outrora. É necessário deixar claro que o CD Entropia dos suecos do Pain Of Salvation que estou ouvindo agora é uma dádiva também. Talvez as pessoas sigam uma lógica natural. Uma espécie de trajeto inato que eu não enxergo por algum dos meus vários, conhecidos ou não, distúrbios biológicos. Deficiências de ordem cognitiva ou mesmo causadas por preguiça. Não acho que eu seja de todo desavergonhado como muitas vezes se diz ao tratar-se de diversos aspectos dos meus atos. Ou talvez meu erro (que erro?) esteja apenas em não fingir que tenho certeza e segurança das minhas convicções. Eu deveria fingir que sou um ente superior. Ok. Seria paraguaio. Algumas pessoas não fingem. É como aquela piada velha do meu professor: "50% dos estudantes de direito acham que são deuses. Já os outros 50% têm certeza". Acontece que, por enquanto, prefiro ser uma cópia do que botei na cabeça que funciona a ser um original de pouco alcance. Eu me sinto como o Pain Of Salvation. Talvez por isso o tenha citado. Quer fantástica originalidade mais sem alcance do que aqueles suecos? Desculpem-me pelas analogias incompreensíveis com música. É aquela questão de experiências em ninhos de discussões imbecis que nem todos têm. E é também o caso alzheimeriano de que já tratei. Mas sei lá... Uma coisa dessas deveria ser inata. Ainda tenho a esperança de que Deus e/ou similares (pra não discriminar ninguém) há de concordar comigo e melhorar essa coisa do inatismo na próxima geração. Se é que existem gerações.
Cada vez eu afirmo menos. Isso definitivamente não pega bem. Veja Lula e seus 52% (mesmo contra a Veja e outros organismos poderosos, mesmo contra esse blog, o que impressiona ainda mais). Se bem que na política tudo é meio diferente, mas, mesmo assim, guarda notável relação com o dito mundo real. Não estou afirmando que seria melhor presidente que Lula. Suspeito de que seria, mas cada vez afirmo menos... Me parece claro que temos no Brasil uma superestimação da importância do presidente. O próprio Lula já deu mostras claras de que não manda muito por aqui não. Mais do que um grande presidente (coisa que creio que ele não foi), Lula mostrou-se um excelente político. Suspeito de que ele deve muito ao Duda também (não, não to falando de dinheiro, antes que exijam que eu prove que Lula deve a Duda Mendonça). Duda Mendonça mudou o Brasil. Bem, estou falando do Lula porque ele é uma pessoa famosa, tão conhecida quanto Bono. Mais conhecido até que a saudosa Katilce. Enfim, o exemplo é adequado para que se (eu) entenda a minha idéia e eu nem preciso desenvolvê-lo muito.
Meu método consiste basicamente em me abandonar um pouco. Talvez ser mais altruísta. Bem, há quem discorde de que isso seja possível, mas não quero entrar em papo de psicologia. Nem filosofia. Acho que "o melhor" é um consenso. Um consenso meio sem valor é bem verdade. Por mais que seja estranho dizer que "o melhor" não tem valor. Mas não é "o melhor" no sentido de o melhor. Refiro-me ao "o melhor". O tal consenso sem valor. Ah, dá pra entender. Quer saber de uma? Eu me viro.
Como eu dizia, a linguagem é bastante importante. Por que as pessoas gostam mais de conversar do que de ler livros por exemplo? Dá menos trabalho? Talvez. Mas possivelmente tem muito a ver com a linguagem adotada em cada modo de comunicação. Numa discussão, a preocupação com normas, regras e ordens não é tão grande. A pessoa quer é ser entendida. Não está muito se importando em falar bonito (a não ser que esteja num júri, discursando pra platéias, ou algo similar). Também não é necessário saber como usar a vírgula e tal. Enfim, não precisa eu ficar diferenciando. Notadamente é muito mais fácil falar certo do que escrever certo, ao menos é o que me parece. E na escrita a pessoa sempre tende a enfeitar mais. tem mais tempo e tal.
Outra coisa que me preocupa na linguagem escrita. Ela mostra muito menos o sentimento que está por trás de tudo. Acho que isso também é notável. A língua até criou recursos que visam modificar isso, tais como: reticências, exclamação, aspas etc. Bill Gates criou o CAPSLOCK pra você gritar na internet até. Mas ainda é muito pouco. Juro que tento de alguma forma transmitir mais emoções do que normalmente se faz na linguagem escrita. Mas como não há um código unificado, não há um padrão, muitas vezes minhas tentativas são e serão frustradas. A minha regra principal para tentar atingir esse objetivo é escrever como se estivesse falando e/ou pensando. Não sei se estou certo, mas acredito que isso inclua mais a pessoa na "parada". Ainda mais quando se fala de temas ultra-chatos como eu faço, por saber, como poucos, ser uma pessoa insuportável e de gostos estranhos (Só eu venero o Alphataurus?). Com um tempo, pode ser que a pessoa, por repetição até, se familiarize com o meu código e ele surta o efeito desejado. Vou testá-lo em mim daqui a uns seis meses obviamente.
Enquanto a festa bombava, Zwangsgewalt lia atentamente os papéis que roubou da mesa natalina dos holandeses um pouco antes de dar uma joelhada na bomba no pouso seguro. Ele os enxergou quando estava no ápice e esticou o braço, salvando-os de virarem aquilo que as coisas viram após uma ogiva explodir. Mal sabia ele que encontraria nesses papéis informações talvez mais bombásticas do que a própria bomba.
"Impostor!" bradou Zwangsgewalt contra Alexsofu. Este, por sua vez, ainda estava paralisado por ter lembrado a minutos atrás de que era, na verdade, um espião a serviço da Holanda infiltrado nas bases do inimigo. Sim. Os holandeses foram os responsáveis pela sua reincorporação à sociedade. Eles foram os seus reeducadores e Alexsofu era muito grato a eles. Até porque eles o ensinaram que ele deveria ser. Os holandeses confiaram a ele a missão de descobrir os planos do inimigo e entregá-los no momento certo. Porém, Alexsofu acabou se habituando à rotina dos tais "inimigos" de tal modo que se esqueceu completamente de que era um espião holandês com o passar dos dias. Coisas de ex-selvagem talvez. Pois... O fato é que ao lembrar de tudo isso ele ficou meio louco e já não sabia bem o que fazer.
Todo mundo esperava uma explicação de Zwangsgewalt e ele a deu. Disse que tinha em mãos os documentos oficiais dos inimigos holandeses, assinados pelo chefão Major Tharick que indicavam que Alexsofu estava a serviço da Holanda. No papel havia os claros dizeres: "Alexsofu é o espião que vai enganar os otários dos inimigos. Aqueles burros! Hahahaha!" (ipsis litteris). Não havia mais dúvidas. A decepção de todos foi muito grande, mas não havia tempo para decepções. Cercaram Alexsofu, apontaram as armas e ordenaram que ele não se movesse. O que será que vai acontecer?
Não perca o último capítulo de "Iminente tragédia de conseqüências nebulosas." Aham. É esse o nome da... Foto-novela, talvez... Enfim, não perca!
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