quinta-feira, setembro 07, 2006

EPISÓDIO IV


Eu deveria avisar isto antes mesmo de aprender a escrever, ainda que parecesse paradoxal, mas vou esquecendo, esquecendo... Mas agora lembrei: não tenho qualquer compromisso com a norma culta ou técnicas consagradas de elaboração de textos! E juro que não me orgulho disso. Mas vamos ao que interessa...

Episódio IV: Que mistura de ódio e brilho é essa que se vê no olho do segundo guerreiro? Analisando outros aspectos desse olhar (ou melhor, desse olho) pode-se também invocar as sábias palavras do pensador Nilo Bob que um dia cantou: "Que olho é esse? Tua mãe não te fez assim". Mas aí talvez seja viagem só minha - autor deste texto - e não do coitado do segundo guerreiro. Por enquanto, apliquemos para este caso o famoso brocardo in dubio pro reo. Limitar-nos-emos a uma metafísica do olhar em questão. O que ele é? O que se esconde por trás dele? Percebe-se talvez um traço de loucura que tem sua origem num passado de muito ódio. É isso que passa esse revelador olhar! Mas o que é a loucura?

Momento (exageradamente?) personalista do texto: segundo o pensamento de John Locke (o de Lost), um louco jamais acha que está enlouquecendo e sim tem certeza de que está tudo "normal" com ele. Durante outro interessante diálogo na série Lost, o personagem Boone pergunta a Locke como pode ele citar Nietzsche ao mesmo tempo que faz aquelas coisas todas (ou algo assim... bem, o importante é que ele diz que Locke cita Nietzsche, citação que se eu lembro bem, não aconteceu durante a série para o telespectador). Eis então que encontro mais uma ligação Locke-Nietzsche ao lembrar, no V Congresso de Direito Constitucional (Lênio Streck deu show) da famosa frase do filósofo alemão: "Não são as dúvidas e sim a certeza que enlouquece" [Ipsis litteris? (Só pra não dizerem por aí que minha aula de latim é inútil e/ou que viajo nela)]. Bem, depois de tantas interrupções pode ser que ninguém lembre mais que eu acabei de comprovar como é considerável a relação Locke-Nietzsche no seriado. Se isso significa alguma coisa importante para a trama ou se é apenas uma forma de citar filósofos durante a série sem ter lá muito significado (vai ver os caras querem só tirar onda de filósofo. E eu afirmo: Isso é podre! Daqui a pouco criam até um blog pseudo-intelectual natimorto) eu ainda não sei. De qualquer forma, garanto que estarei pensando em teorias que revelem o final usando a pista (alguma relação entre o pensamento de Nietzsche e do filósofo Locke, afinal, a resposta para tudo pode estar numa intersecção entre os dois pensamentos). E o que eu ganho descobrindo algo relacionado ao desfecho da trama lostiana (ou mesmo o próprio)?

Essa pergunta revela o estado, no mínimo, discutível do pensamento predominante em tempos de pós-tudo. Eu que sou quase fã de Richard Dawkins tenho que admitir minha suspeita de que ele tenha grande parcela de culpa na consolidação do pragmatismo (ou utilitarismo, tanto faz, são parentes muitíssimos próximos) como doutrina dominante, ainda que muitas vezes inconscientemente, na maioria das mentes. (Não. Não estou lançando uma teoria. Muito menos anseio elaborar "ciência". Pra você ter uma idéia: sou tão cretino que admiro o Feyerabend e o Boaventura. Não que eu os conheça satisfatoriamente bem, mas os tenho como pessoas legais, digamos assim). Tenho "ciência" de que o pragmatismo não é o demônio irracional que prega que tudo que não tem aplicação prática e não garante a sobrevivência é completamente inútil (talvez, lááááááááááá no fundo...). Seria amadorismo demais até para mim. Sabia que eu nem tenho nada contra ele? É bem possível que ele esteja correto e que somente seus critérios que sempre vão variar de acordo com a pessoa estejam errados, ou seja, que façam um tremendo mau uso dele. Aliás, sou quase um pragmático. Não quero entrar em maiores delongas por já ser suficientemente delongueiro. Delongueiro o bastante pra incomodar a mim mesmo. Concordo com a pergunta "o que é que eu quero mesmo afinal então?". Ora, revelar que a sociedade está falida, que seus valores são medonhos, que os meus é que são legais e ainda pretender que chamem isso de uma revolução axiológica. Enfim, nada que todo mundo já não tivesse dito umas dez mil vezes desde que Sócrates, Platão e Aristóteles começaram a tirar onda de espertos. Sócrates até se deu muito mal com isso coitado. Se algum dia eu for filósofo, daqueles de verdade e tudo (sei lá porque eu me interessaria, só uma suposição idiota mesmo), devo me lembrar de nunca reclamar do meu trabalho, difícil era lá na época de Péricles ou sei lá quem. Enfim, após pensar mais um pouco (todo mundo faz isso) vejo que o pragmatismo está condenado a servir a interesses espúrios. Não adianta. Qualquer disposição em contrário me parece ingênua. Percebo também que ele existe apenas se atrelado a outras concepções filosóficas muito anteriores. Queria poder desenvolver essas minhas afirmações, mas suspeito de que o tempo exista, embora todo mundo ache muito bonito não saber defini-lo (e falando assim eu pareço um adepto do pragmatismo). Não porque eu tenha o intuito de convencer alguém de alguma coisa (por sinal, isso é teoria de pragmático metido a espertinho, que gosta de trabalhar com psicologia e se diz entendedor de Lacan), mas porque tenho certeza de que não me lembrarei dos pensamentos que sustentam tudo isso (quando eu digo que sou meio pragmático ninguém acredita, ó aí!). Sim, admito que sou um desmemoriado ou mesmo pessoa com dificuldades de aprendizado que se possa aplicar de forma eficiente ou mesmo burra, vai da definição de cada um para o meu problema, e isso é uma delícia pra maioria das pessoas. Digo porque também gosto de investigações. Bem, concluo, após praticamente nada argumentar, que o pragmatismo está comprometidamente incompleto (peguei leve hein!) e que algumas coisas poderiam aproximá-lo disso que chamamos de verdade. O que é a verdade? Talvez se possa dizer que a verdade é toda e/ou qualquer resposta correta para essa pergunta. Se há alguma definição melhor alguém me avise.

Bem, mas eu falava de loucura. O que é a loucura? Talvez depois de ler esse texto muita gente já saiba o que é a loucura ou ao menos tenha fortes indícios. Aos espertinhos recomendo cuidado. Locke e Nietzsche são bem espertos e o que eles disseram não deve ser esquecido. Dizia um velho ancião que o homem foge da dúvida como um rato foge da ratoeira. Não que eu ache crime inafiançável acusar Nietzsche e adjacentes de serem loucos com instinto natural de autoproteção ou sei lá o que. Mas é algo complicado. Boa sorte! Ainda sobre a loucura, outra figura que não pode deixar de ser observada é o famoso filósofo Erasmo de Rotterdam, autor do livro "Elogio da Loucura". (mais informações em http://pt.wikiquote.org/wiki/Erasmo_de_Rotterdam e no google obviamente) Nesse livro, o pensador holandês apresenta a loucura como uma deusa que conduz as ações humanas. Identifica a loucura em costumes e atos como o casamento e a guerra. Afirma que é ela que forma as cidades, mantém os governos, a religião e a justiça. Ele critica muitas atividades humanas, identificando nelas substancial medicridade e hipocrisia. Vejamos o que ele diz sobre:

a) a Loucura - a Loucura fala em primeira pessoa no livro, e ela defende sua imagem e ponto de vista.

b) as crianças - a alegria da infância a torna a idade mais agradável, porque a natureza dá às crianças um ar de loucura.

c) o casamento - se as mulheres pensassem sobre o assunto veriam que não é vantajoso. Dores no parto, filhos, dever conjugal. Só a loucura para fazerem agir dessa maneira, assim a Loucura é a origem da vida. A única preocupação das mulheres é se tornar mais agradável para os homens. É essa a razão de tantos perfumes, banhos e enfeites. Só a loucura constitui o ascendente das mulheres sobre os homens.

d) os filósofos - gabam-se de serem os únicos sábios, mas se tirarmos o véu de orgulho e presunção veremos que não passam de ridículos loucos. A natureza parece zombar de suas conjeturas, e é risível sua teoria de infinidade dos mundos. Falam de astronomia como se conhecessem os astros palmo a palmo. Na verdade, eles não têm nenhuma idéia segura.

Créditos ao excelente site do qual foram tiradas as explicações sobre o livro:

http://www.consciencia.org/moderna/erasmo.shtml

Depois dessa longa, mas necessária e saborosa explanação, está mais do que provado que não se pode chegar a qualquer conclusão sobre o estado psicológico, patológico ou mesmo lógico do segundo guerreiro. Seria deveras precipitada. Resta então esperar pelos desenrolos do próximo capítulo que, como sempre, está emocionante. Enquanto isso, é recomendável a qualquer ser humano que eleve o seu nível cultural através da leitura dos artigos do conceituadíssimo site http://desciclo.pedia.ws/wiki/P%C3%A1gina_principal


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