
Este episódio é algo independente dos anteriores, mas vamos lá (ao que interessa) :
Episódio IX: Pouco se sabe ainda sobre o passado do terceiro guerreiro. Conhece-se o seu pai. Conhecido pela alcunha de "Tonho Gatão", o pai do terceiro guerreiro era um renomado jogador de futebol e tratava como ninguém (em suas terras) a pelota. Conhecido por ser um dos poucos times que conseguiram derrotar o Papão da Curuzu, em seu próprio estádio (o Curuzu em Belém do Pará), o Associação Recreativa Confederativa Ornamental Multimilionária, conhecido como ARCOM e patrocinado pela Oral B, era a alegria do povo. O futebol travesso daquele time de uma década atrás encantava o público sedento por arte nos campos. Porém, o time continha muitos amantes da noite, verdadeiros boêmios. Conhecia-se, na época, o proveito que Tonho Gatão tirava da sua condição de craque do time. A FIFA não gostava nada nada daquilo tudo e comunicou um ultimato ao craque. Tonho Gatão tomou conhecimento do comunicado, porém, ignorou-o sumariamente e continuou a exagerar nas noitadas. Dois dias depois, a FIFA anunciou o banimento, em caráter de eternidade, do jogador de todo e qualquer gramado (ou não) onde se pratique o esporte bretão, sob a alegação de que o comportamento de Tonho Gatão maculava a imagem do futebol. Pois é, eram tempos conservadores (juro que não vou começar a falar de conservadorismo outra vez, calma, calma...). O fato é que a carreira do craque estava em maus bocados. Conhecia então o fracasso na sua forma mais cruel. Diante de tamanha aporrinhação, Tonho Gatão não viu outra solução senão abandonar o futebol e se tornar um samurai.
Pois bem, era preciso continuar a luta, ainda mais agora que tinha um filho (é. já nasceu o terceiro elemento) para cuidar. Seu treinamento foi rígido. Primeiramente, tratou de aprender tudo sobre filosofia oriental e para isso adquiriu ilicitamente diversas obras. Ele atacava os alunos da UFBA ("Os playboy mais riquinhos" costumava dizer) sempre a noite, e tinha predileção por estudantes desprevenidos. Apontava o muchaco para a vítima e dizia: "Perdeu! Perdeu! Passa logo a Crítica da Razão Pura ou vai sofrer playboy". Assim sendo, foi construindo uma imponente biblioteca, na qual não faltava quase nenhum clássico. Nietzsche, Sartre, Hume, Schops, Brahms, Hegel e até Wittgenstein. Tinha de tudo lá. Depois de algum tempo de leitura, adquiriu vasto conhecimento filosófico, mas... Continuava sem saber patavinas sobre longitude, latitude, meridianos, paralelos... Geografia em geral. De tal modo que o que se aproveitou dessa experiência toda mesmo foi a perícia cada vez maior na execução de tarefas perigosas. Conseqüentemente (que tipo de chato ainda usa trema?), Tonho Gatão não passou por grandes dificuldades para obter o título máximo de "grão-mestre samurai" pela Academia Cazaquistã de Aeroluta (a tradicional ACA). Não precisou sequer passar por estágios intermediários. Ele havia aprendido em tempo recorde os mais variados golpes, táticas de defesa, camuflagem avançada, emboscada e servia-se de movimentos silenciosos e letais.
Na Bahia, ficou célebre por ter fugido inúmeras vezes do esquadrão de morte pseudo-não-oficial do governo e ter derrotado mestre Toninho da Capoeira, mesmo tendo seus membros completamente amarrados. A imprensa o chamava de "Dr. Ardiloso" e o descrevia como um homem culto, porém, muito perigoso. Ninguém entendia muito bem o porquê de ele sempre enviar um artigo semanal com suas recentes conclusões a respeito dos mais variados problemas gnosiológicos e axiológicos a todas as suas recém-vítimas. Ninguém entendia também seus artigos, visto que livros de filosofia se tornaram coisa rara nas universidades e os intelectuais (pseudos ou não) acabavam sabendo cada vez menos. Filosofia se tornara algo perigoso demais até para ser ensinado, visto que os professores que publicavam algum artigo que desagradasse o então pretendente a samurai (e praticamente tudo desagradava Tonho Gatão, até porque, o mesmo adquirira insuportável senso crítico) recebia logo depois uma resposta por escrito, nas normas da ABNT, retrucando tudo o que fora dito. Ainda que Tonho nunca tivesse agredido alguém fisicamente, as suas réplicas surtiam um efeito atemorizador nos professores, levando estes a abandonarem suas profissões e se dedicarem a uma outra atividade qualquer. Nota-se que fora criado um mito em torno da figura de Tonho Gatão (prometo não discutir o papel ou natureza do mito na sociedade contemporânea e nem na antiga e nem dissertar acerca de como se faz o chamado "terror psicológico involuntário"). Esse homem que em seus tempos de futebolista parecia só mais uma figura inofensiva e folclórica do povo (vide foto).
Após alguns meses e a colação de grau, Tonho Gatão, agora já consolidado como um dos maiores nomes das artes marciais mundiais, dono do título de pós-doutor em coisas que samurai faz e seguramente o maior especialista na técnica do ippon-traumatismo-craniano, sentia-se pronto para treinar o seu filho. O terceiro elemento aprendeu, durante anos, as mais avançadas técnicas de destruição já ensinadas , complementadas por altas noções de guerra e estratégia, após treinos permanentes com o jogo "Combate". Treinado com o dobro do rigor normal, Matossas se tornou uma iminente máquina de matar, ou seja, estava pronto para destruir qualquer coisa que porventura exista ou venha a existir. Não cabe aqui a discussão a respeito da transferência de habilidades através dos genes. Ela é um tanto quanto biológica demais. Porém, cabe a velha polêmica: Afinal, Matossas já nasceu com um dom que precisava ser despertado? Ou tudo é uma questão de experiência, treinos? Aprende-se através dos sentidos? Há razão e/ou concepções inatas? Se sim, quais?
Serei breve. Até porque não pretendo dar uma resposta clara, aprofundada, objetiva e completa para o assunto. Muito menos definitiva, obviamente. Não sei sequer se pretendo passar algo que se possa chamar de resposta. Que porcaria eu quero então? Calma. Vamos por partes... (aliás, isso é coisa de indutivista. To fora! Nada de ir por partes)
De um lado temos Platão, o filósofo Hezbollah (Sócrates era "sunita"). Nos meios temos Aristóteles e uma galera aí. No outro extremo do ringue há desde os empiristas, chefiados por John Locke, até os atuais eleitores carlistas, malufistas e/ou colloridos. Estes últimos permitem contestar a teoria de Platão de modo quase letal. Se o ser humano nasce com conhecimentos a piori, estruturas racionais pré-estabelecidas e tudo isso, como explicar a existência desse pessoal que citei? É isso, Platão fica viajando no mundo das idéias dele lá e se esquece um pouco de observar a realidade. Ele freqüentemente esperneia: "a percepção da realidade através do sentido nos dá, quando muito, uma mera opinião verdadeira! E isso não é ciência! Os sentidos só geram mais obstáculos ao conhecimento, dificultando o caminho até à verdadeira verdade! O que importa é o conhecimento intelectual! Deve-se partir de especulações racionais para que se revele a nós o Mundo da Verdade!" (algo assim).
Por sua vez, Locke dá uma de iconoclasta (tal como a Marli naquele clipe) e elabora uma teoria que, implicitamente, chama Platão de imbecil. Locke é outro xiita, diz ele: "O homem é uma tábula rasa! Não há nada na mente que antes não tenha passado pelos sentidos! A prática é a fonte de conhecimento humano! O intelecto humano não pode partir do nada, sua fonte e limite é a experiência! O intelecto não cria nem destrói idéias! Ele apenas combina as idéias provenientes dos sentidos! A reflexão faz isso! Relaciona idéias simples para gerar complexas! E outra! Você não vê Platão que é um absurdo haver coisas inatas e o Zé Mané não ter consciência disso? Você é louco Platão! Louco!" [algo assim (ah, só estou escrevendo como se fosse uma novela mexicana pra ver se vendo tudo isso aqui pra o Sílvio depois)]. Por causa disso, um monte de filósofo-beata da época acusou o coitado do Locke de ser ateu. Afinal, a noção de Deus só pode ser inata, diziam eles. Não sei qual é a lógica em se discutir Deus? Bem, não vou discutir Deus. O cara é gente boa demais pra eu fazer isso...
Aristóteles tem alguns pontos em comum com Platão sobre esse assunto. Sócrates também. Grosso modo (não quero pesquisar pra relembrar), pode-se dizer que Ari reconhece a importância dos sentidos na apreensão da realidade e defende que seja feito um processo de abstração dessas informações trazidas por eles. O resultado seria a matéria-prima de que a estrutura racional se utilizaria para produzir conhecimentos, leis gerais, bambambam e coisa e tal. E Sócrates é um Platão mais light [e vice-versa, fazendo-se a devida mudança na frase (pra não dizerem que eu menosprezei um dos dois)].
Há vários outros filósofos com opiniões relevantes sobre o assunto. Dizem até que vale a pena dar uma pesquisada no construtivismo de Piaget (tenho pouca idéia do que seja, segundo lidas rápidas, ou seja, grosso modo, é meio que um meio-termo entre Platão e Locke. A teoria fala de interação entre meio e indivíduo. Bem, fica aí a dica então). Mas, o fato é que to com sono e parto do pressuposto de que ninguém está minimamente interessado em discutir filosofia, até porque se estivessem, estariam em um blog (ou semelhante instrumento) muito mais adequado para isso. Eu, o cara estranho do bloco (blog) do eu sozinho (nem sou fã de Los Hermanos,,, Sério) to longe de poder definir os meus atos e a minha existência. E que nunca me peçam pra fazer isso...
Bem, não dá pra chegar a uma conclusão a respeito do processo de aprendizagem de Matossas. By the way, pouco se conhece no que concerne à personalidade dessa, talvez, fria máquina de planejar e matar. Entende o porquê de não se poder perder o próximo episódio? Mas antes, vai mais um pouco: Tonho dedicou sua vida ao filho e agora o pequeno estava pronto para seguir seu destino em liberdade. Em decorrência disso, o agora velho samurai achou de bom alvitre aceitar a ajuda que os U$A ofereceram e concordou em enviá-lo para servir aos interesses estadunidenses. Os ianques descobriram os talentos de Matossas bem por acaso. Do nada, apareceram vários vídeos caseiros com demonstrações de força e astúcia por parte do rapaz lá no Pentágono. Imediatamente eles se interessaram e contactaram Tonho Gatão, que passava por algumas dificuldades, para propor um contrato (estranhamente havia o telefone de contato de Tonho nas misteriosas fitas de vídeo). A conversa foi rápida e Matossas se foi... Todo desconfiado. O pai embora não tenha levado o filho ao avião, disse a ele que sentiria a sua falta, antes de desmaiar de cachaça (havia comprado uns 10 litros).
Chegando aos Estados Unidos, Matossas teve um rápido encontro com os oficiais estadunidenses e foi comunicado que seria enviado para servir militarmente aos friends argelinos. Estes mandaram Matossas para servir militarmente aos amigos mongóis, que o mandaram para os espanhóis, que... Bem, ele acabou parando na base dos comandantes botswaneses Sissoko e Bungulungudum e nesse exato momento acaba de terminar o plano que apresentará aos superiores. O "trio invencível" está perto de se concretizar. O alarme toca. Hora do descanso. Todos interrompem os exercícios físicos e se recolhem aos dormitórios, Todos. Menos Matossas... Por que? Saberemos... Mais reticências, afinal, o suspense é a tônica desta foto-novela... Um pouco mais e... No próximo episódio!
OBS: Essa comunidade aqui é muito boa. Vê se não é a minha cara? Esses episódios mais filosóficos e tal... Bem, tudo a ver:
Destaque para o tópico sobre filosofia:
Outro tópico de partes interessantes, contesta a nossa natureza:
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